Luciane Mediato
Do Diário do Grande ABC
A sexualidade e suas práticas estão inscritas em nossa natureza mais profunda. Cada cultura reserva-lhe um espaço privilegiado em seu sistema, representando-a à sua maneira. E a sexualidade não muda só no espaço, mas no tempo também. O de ontem não é o mesmo de hoje. Isso porque as práticas sexuais se transformam ao longo dos séculos.
Somos herdeiros de um passado que ignoramos. Nosso comportamento sexual não é o mesmo de outras nações. Ainda que inúmeros livros tenham sido escritos sobre o assunto e tantas matérias inundem jornais, revistas, TV e a internet, há ainda lacunas na historiografia brasileira sobre o assunto. Reunir o material disperso e apresentar cronologicamente os acontecimentos é o que pretende o sociólogo Paulo Sérgio Carmo, autor de ‘Entre a Luxúria e o Pudor – A História do Sexo no Brasil’ (Octavo, 448 páginas, R$ 68).
Paraíso tropical, clima quente, Carnaval, mulheres e homens com pouca roupa e liberação sexual. Para muitas pessoas, essas são as são imagens que retratam o Brasil. Mas será que as definições correspondem à realidade ou se tratam de um mito fabricado? Não se pode compreender a história de nosso País ignorando a
história de nossa vida sexual. “Fui buscar os fatos que aconteciam na intimidade das casas, quartos e bordeis. A sexualidade tem uma cronologia específica. Somos um País que vive, desde os primórdios, o conflito entre a moral religiosa/social e os prazeres. Luxúria e pudor conviveram juntos em nossa trajetória histórica”, diz o autor.
Nudez e pudor, hábitos de higiene, afrodisíacos, crendices, homossexualidade, prostituição, o surgimento da lingerie, a popularização do biquíni, a criação de remédios caseiros para aborto, o nascimento dos bailes de Carnaval e a revolução sexual. Todos esses ingredientes compõem a interessante trajetória do sexo em
território brasileiro. Aos olhos dos colonizadores, a nudez dos índios era semelhante à dos animais – afinal, como as bestas com quem conviviam, eles não tinha vergonha ou pudor natural. Vestí-lo era afastá-lo do mal e do pecado. Afinal, como se queixava padre Anchieta, além de andar peladas, as indígenas não se negavam a ninguém. “A associação entre nudez e luxúria provocava os castigos divinos. Ameaçavam-se as pecadoras que usavam decotes. Eis por que a luxúria foi associada a uma profusão de animais imundos: sapos, serpentes ou ratos que se agarravam aos seios ou ao sexo das mulheres lascivas”.
PONTOS DE VISTA
O sociólogo mostra que vivemos, ao mesmo tempo, entre a luxúria característica de um povo miscigenado e o pudor herdado da igreja em País marcadamente católico. Outra ideia é a de que as mesmas condutas sexuais foram e são julgadas por diferentes grupos. Para Carmo, o que para certos setores da alta sociedade pode ser considerado como revolução nos costumes ou exotismo, outros setores menos favorecidos lidam com certas questões como degradação dos costumes ou desregramento moral.
“O paraíso sexual é desfrutado apenas por uma minoria. Além disso, o nível cultural de cada um influência no tipo de liberdade sexual que a pessoa terá, ou seja, quanto mais conhecimento tiver mais livre será”, explica.
Somos herdeiros de um passado que ignoramos. Nosso comportamento sexual não é o mesmo de outras nações. Ainda que inúmeros livros tenham sido escritos sobre o assunto e tantas matérias inundem jornais, revistas, TV e a internet, há ainda lacunas na historiografia brasileira sobre o assunto. Reunir o material disperso e apresentar cronologicamente os acontecimentos é o que pretende o sociólogo Paulo Sérgio Carmo, autor de ‘Entre a Luxúria e o Pudor – A História do Sexo no Brasil’ (Octavo, 448 páginas, R$ 68).
Paraíso tropical, clima quente, Carnaval, mulheres e homens com pouca roupa e liberação sexual. Para muitas pessoas, essas são as são imagens que retratam o Brasil. Mas será que as definições correspondem à realidade ou se tratam de um mito fabricado? Não se pode compreender a história de nosso País ignorando a
história de nossa vida sexual. “Fui buscar os fatos que aconteciam na intimidade das casas, quartos e bordeis. A sexualidade tem uma cronologia específica. Somos um País que vive, desde os primórdios, o conflito entre a moral religiosa/social e os prazeres. Luxúria e pudor conviveram juntos em nossa trajetória histórica”, diz o autor.
Nudez e pudor, hábitos de higiene, afrodisíacos, crendices, homossexualidade, prostituição, o surgimento da lingerie, a popularização do biquíni, a criação de remédios caseiros para aborto, o nascimento dos bailes de Carnaval e a revolução sexual. Todos esses ingredientes compõem a interessante trajetória do sexo em
território brasileiro. Aos olhos dos colonizadores, a nudez dos índios era semelhante à dos animais – afinal, como as bestas com quem conviviam, eles não tinha vergonha ou pudor natural. Vestí-lo era afastá-lo do mal e do pecado. Afinal, como se queixava padre Anchieta, além de andar peladas, as indígenas não se negavam a ninguém. “A associação entre nudez e luxúria provocava os castigos divinos. Ameaçavam-se as pecadoras que usavam decotes. Eis por que a luxúria foi associada a uma profusão de animais imundos: sapos, serpentes ou ratos que se agarravam aos seios ou ao sexo das mulheres lascivas”.
PONTOS DE VISTA
O sociólogo mostra que vivemos, ao mesmo tempo, entre a luxúria característica de um povo miscigenado e o pudor herdado da igreja em País marcadamente católico. Outra ideia é a de que as mesmas condutas sexuais foram e são julgadas por diferentes grupos. Para Carmo, o que para certos setores da alta sociedade pode ser considerado como revolução nos costumes ou exotismo, outros setores menos favorecidos lidam com certas questões como degradação dos costumes ou desregramento moral.
“O paraíso sexual é desfrutado apenas por uma minoria. Além disso, o nível cultural de cada um influência no tipo de liberdade sexual que a pessoa terá, ou seja, quanto mais conhecimento tiver mais livre será”, explica.
‘Entre a Luxúria e o Pudor’ traz algumas curiosidades sobre as diversas manifestações sexuais, como as do amor livre na Colônia Cecília, no Paraná, no final do século 19; a homossexualidade na ilha de Fernando de Noronha entre os séculos 18 e 19; e o casamento no mundo caipira do interior de São Paulo e de outros estados nas primeiras décadas do século 20. O Santo Ofício da Inquisição condenou 29 mulheres que tinham relações sexuais com outras mulheres no século 16. A obra também cita nome de escritores famosos, como Jorge Amado, grande conhecedor de bordéis, e Oswald de Andrade, ao confessar em suas memórias que um
de seus primeiros contatos sexuais ocorreu com uma “criadinha mulata, que não deveria ter mais que quatorze anos”. Ainda há espaço para a afirmação de Nelson Gonçalves, que, antes de decolar sua carreira como cantor, chegou a ser cafetão de dez mulheres, e para recordar que Gilberto Freyre, em seu diário de 1922, contou experiência sexual com uma europeia e sua queda pelo sexo oral.
de seus primeiros contatos sexuais ocorreu com uma “criadinha mulata, que não deveria ter mais que quatorze anos”. Ainda há espaço para a afirmação de Nelson Gonçalves, que, antes de decolar sua carreira como cantor, chegou a ser cafetão de dez mulheres, e para recordar que Gilberto Freyre, em seu diário de 1922, contou experiência sexual com uma europeia e sua queda pelo sexo oral.
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