Quem não gosta das sensações que o começo de uma relação proporciona?
São trocas de olhares, friozinho na barriga, beijos apaixonados e sempre
uma novidade a ser descoberta no dia seguinte. Todos que já namoraram
sabem que estas situações são típicas do início do relacionamento. Com o
passar do tempo, as novidades passam a ser mais escassas. O
relacionamento ganha outras características e vantagens, mas o dia a dia
obriga o casal a se esforçar para que a relação não esfrie.
Para algumas pessoas, no entanto, a fase seguinte à da paixão não
interessa. Especialistas sugerem que a fase do frio na barriga dura
pouco mais de 18 meses. Mas a psicoterapeuta de casal e família Margarete Volpi
diz que a fase do “encantamento” é ainda mais curta. “A gente fica
enamorado, aquele período de excitação com as novidades, por cerca de
seis meses apenas”, afirma.
A impossibilidade de ter relacionamentos duradouros não pode ser
explicada da mesma forma para todas as pessoas, mas especialistas dizem
que algumas razões são mais comuns. Margarete explica que, quando a fase
de encantamento passa, a realidade aparece. Este é o momento em que se
percebe que as expectativas que se tem em relação ao outro nem sempre
são alcançadas. “Isso gera uma grande frustração, que é um sentimento
negativo e esbarra na nossa autoestima. A gente quer mudar a outra
pessoa em função de nosso bem-estar. Quando isso não acontece, eu me
frustro e não me sinto bom o suficiente para conseguir vencer este
desafio”, esclarece Margarete.
Prazo de validade curto
O administrador de empresas Romulo Magalhães, 24, diz que suas relações
têm “prazo de validade” muito bem definido: “fico com a mesma pessoa por
dois meses”, afirma. A troca de namoradas é tão constante que seus
amigos vivem fazendo apostas para tentar acertar quanto tempo o próximo
relacionamento vai durar.
“Eu gosto do início do namoro. Depois de um mês, a química vai acabando e
aí é só uma questão de dias para que termine. É como se fosse um
brinquedo novo que depois de um tempo não tem mais graça”, diz Romulo.
A terapeuta de casal e família Lana Harari explica que tudo que é novo
tem grande apelo. Segundo ela, em época de consumismo exacerbado que
objetos se tornam descartáveis rapidamente, as relações adquirem o mesmo
status. “Muita gente quer apenas o prazer da novidade. Obviamente, com o
tempo, ficamos familiarizados com o parceiro. Isso é inevitável. Nesta
etapa, muitas pessoas desistem da relação e partem para a busca de algo
inédito novamente”.
Romulo conta que já teve duas relações longas, mas porque via benefícios
que compensavam a sua intolerância a sentir-se preso a uma pessoa. “Eu
gostava das minhas ex-namoradas. Uma delas eu via todos os dias, e
ficamos juntos onze meses. Com a outra, fiquei um ano e meio. Nossa vida
sexual era muito boa. Havia essa compensação”, diz.
O administrador conta que, apesar de “mulherengo”, sempre foi fiel. Ele
se diz contraditório quando o assunto é maturidade para manter longos
relacionamentos. “Sou maduro para saber que nem todos os dias do namoro
vou acordar perdidamente apaixonado. Mas, ao mesmo tempo, imaturo, já
que não tenho paciência de passar por isso. Eu sempre penso em terminar e
buscar novamente uma outra conquista.”
Curto, intenso e verdadeiro
“O início do namoro é maravilhoso. A gente se sente feliz. Achamos que
aquela pessoa vai ser sempre linda, doce e simpática como no dia em que a
conhecemos”, relata o ator e estudante de Publicidade e Propaganda
Rodrigo Rott, 19.
O grande problema para Rodrigo é a rotina. Para ele, aquela sensação de
que tudo vai ser lindo para sempre acaba. Os sentimentos se desgastam,
as belezas vão enjoando e a rotina deixa tudo chato e monótono, afirma.
Seus namoros não costumam passar dos quatro meses de duração. “Eu sou
uma pessoa fanática por mudanças. Não consigo gostar de coisas que são
sempre iguais. Mas o fato dos meus relacionamentos serem curtos não
significa que não sejam intensos e verdadeiros”, ressalta.
De acordo com Mariuza Pregnolato, psicóloga clínica especialista em
terapia comportamental cognitiva pela Universidade de São Paulo (USP),
quem gosta de enfrentar novos desafios com frequência pode ter problemas
com a estabilidade de um relacionamento duradouro. “Quando a gente se
apaixona, não é pela pessoa, que mal conhecemos. Nós idealizamos alguém
e, com o passar do tempo, as diferenças aparecem. É preciso abrir mão de
muita coisa. Ao invés de passar por essa fase, fica mais atraente
partir para outro desafio, outra conquista.”
A arquiteta da informação Patrícia Rez, 30, também dificilmente passa dos quatro meses de namoro.
“Gosto do começo da relação porque tudo é muito incerto, a gente não
sabe o que vai acontecer no dia seguinte. Quando fica definido o namoro,
parece que perde a graça.” Ela diz ainda que procura as pessoas
erradas. “Normalmente me interesso por quem mora longe. A distância
acaba atrapalhando e aí eu faço outra viagem e conheço novas pessoas.
Tudo isso é mais ou menos um padrão, que venho tentando quebrar.”
“Através de um trabalho de autoconhecimento, que é o que a terapia
propõe, a pessoa consegue ver onde está a barreira que torna seus
relacionamentos curtos. É preciso querer mudar para que isso
efetivamente ocorra”, explica Lana Harari.
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